sexta-feira, 30 de maio de 2014

Queria...



Queria...

Só queria o piano.
Só o piano e o silêncio.
Só as verdades não ditas, ditas.
Gritos de silêncio,
Era só o que queria.
Fim.
Queria o som ressoando.
Ressoando no teatro vazio.
A plateia já se foi há muito.
Queria a plateia vazia.
Cheia de silêncio.
Queria o eco do teatro vazio.
O mesmo vazio do coração e alma.
Era o que queria.
Tão confortante.
Só isso era o que queria.
Silêncio.
Queria o mundo parado.
Todos se foram?
Queria o silêncio.
Era o que queria.
Só notas mortas.
Ecoando no turbulento silêncio.
Tão confortante.
Era só o que queria.
Era só.
Queria.
Só.


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Adeus



Adeus

E a chuva vem dar boa noite,
As gotas caem suaves,
Como lágrimas tristes,
Por aqueles que não voltaram...
Caem lágrimas do céu,
Como beijo-acalanto.
Beija a testa e escorre no rosto,
Como lágrimas,
Por aqueles que não voltaram...
Enche as memórias,
Como a música preenche a alma.
Mas vai embora com a mesma sutileza que chega.
Diz adeus com o silêncio.
Vai embora, 
Como aqueles que não voltaram...


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Louca Lucidez




Louca Lucidez

Quando a noite enfim chegar,
Convide-a pra entrar e sentar.
Puxe aquela cadeira na varanda,
E por horas, o papo flui e balança...
Ofereça um café ou chá,
Pois a noite fria e cinza está,
Precisando de ânimo pra continuar,
e boas risadas pra deixar o sol voltar.
E as estrelas? Onde estão?
Ainda tímida, a noite fica vermelha no horizonte,
Mas papo lá e cá,
e o sol já é coisa de ontem.
A noite observa seu olhar distante nas estrelas,
E você o que teria na cabeça?
As horas vão passando,
E a noite fica cantarolando,
Em silêncio, até os olhos se descansarem...
A noite lhe cobre e dá um beijo na testa,
E lá mesmo na varanda,
Na cadeira de balanço você descansa...
Mas A noite também cansa,
E o sol dá uma folga pra noite,
Aquece como um abraço e alegra como o beijo.
Reflete aquele sorriso de canto,
O sol não entende o motivo.
A noite foi embora e deixou um sonho ali perdido,
Com dias futuros já vividos,
Não tinha final feliz.
Não há final, só o feliz.
Não há mais o só,
Isso já é final.
2 são 1 e 1 é 1.
E nesse sonho louco,
O mais louco é a lucidez,
Ao Lembrar que tudo isso é pouco,
E que não precisa sonhar,
Para sorrir de canto,
a batida do coração Descompassar ,
Respirar fundo quando te chamo,
E o mais engraçado desse sonho louco,
É que acontece todo dia,
Sem precisar fechar o olho...

Pôr-do-sol

Pôr-do-sol

Dia nublado
Nuvem de triste fado
O sol não sorri mais
Os pássaros lá não voltam jamais
Ouve-se só o canto de lamento
Corta-lhe o rosto o frio vento
As lembranças corroem a mente
As mãos apertam-se insensivelmente
O coração em cadência com a angústia
E as lágrimas confortam o rosto de amor penúria.
A lenta respiração sussurra
E disputa com o vento
A atenção de si mesmo
Boas lembranças ecoam na mente.
É tarde.
O olhar soturno contempla a consumação do dia.
Sozinha.
Eis que todos se foram!
Estão ao redor, mas não estão.
Deu-se valor, mas perdeu-se.
Lamúria.
Foi-se junto com o sol,
Infeliz e lentamente,
Esfriando-se,
Em silêncio partiu-se,
Em silêncio hoje clamam.
É tarde.
É fim de tarde.
O sol que não se vê despede-se.
Em silêncio, sem adeus.
O escuro cresce.
O murmúrio do dia mau permanece,
Mas as lembranças jamais falecem.

Versos Nostálgicos

Versos Nostálgicos


Queria sentir mais uma vez
O sabor doce da chuva
Sobre o rosto numa tarde quente.
Queria sentir mais uma vez
Na fria manhã
A brisa beijando a alma.
Queria sentir mais uma vez
O abraço de conforto, de alegria, de tristeza, de rotina.
Queria sentir mais uma vez
A voz grave da repreensão,
Mas que deriva do coração.
Queria sentir mais uma vez
Só mais uma vez,
As palavras do mérito.
Que palavras?
Queria sentir mais uma vez
A presença na sala grande
Olhos vidrados no ritmo andante.
Olhos cheios de esperanças
Mas que se foram junto com as lágrimas.
Queria sentir mais uma vez o gosto da vida,
O gosto da felicidade,
O gosto de sorrisos e gargalhadas,
O gosto de ser lembrada,
O gosto de sentir-se querida,
O gosto de sentir-se humana.
O gosto de sentir-se...
Mas tudo se foi, tudo. Tudo.
A realidade bate a porta.
Acorde...  Acorde...
Desperte do devaneio,
Eis que a hora é passada,

Mas na alma a nostalgia é selada.

domingo, 30 de março de 2014

Palavras de silêncio



Perto e longe,

Mais perto e ainda longe,
O abraço quente dado pelo vento frio e distante,
O beijo pela chuva,
Junto com as notas sonolentas,
Em harmonia às horas mortas,
Deixadas pelo velho acalanto...

A chuva bate na janela,
Como palavras confortantes e doces,
Na alma melancólica.
E até na noite mais tempestuosa,
A lua minguante sorri tímida,
A melodia afável que ecoa nas cordis,
Do mar revolto de mil palavras,
Ditas na calmaria do silêncio...

segunda-feira, 24 de março de 2014

Repouso




Repouso
Exausto da mesmice,
Pintou as estrelas no chão.
Deleitou-se no céu,
Abraçou o nada.

O sereno dá-lhe o beijo de boa noite.

domingo, 11 de agosto de 2013

Devaneio




Se olho para o distante azul do céu,
Ainda consigo ver o azul de teus olhos.
Se aperto meus braços contra mim mesma,
Ainda consigo sentir seu abraço.
Se fecho meus olhos,
Ainda consigo vê-lo vivo em minhas memórias.
E melhor,
Se repouso em silêncio e deixo-me levar pelos sonhos,
Ainda vejo que está vivo e presente,
Mas se acordo, não vai embora.
Os devaneios permitem-me continuar sentindo-o por perto.


Em memória de meu pai, Martinho Mormelo (1943-2011).

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Outono





A lua pálida
Cobre-se com doces nuvens,
E apaga as estrelas,
Com a névoa suave.
E O velho bordo
Chora o orvalho
Que arranca-lhe as folhas
como pétalas mortas.
Os galhos crepitam-se ao vento,
Que sussurra cortante.
É chegado o outono,
Selam-se tempos felizes.
Repousa em silêncio,
À melodia do acalanto,
Trazida pelo tempo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Início do Fim


Início do Fim

De repente, sorrisos.
De repente, lembraças.
De repente, esquecidas.
De repente.
O homem humaniza-se.

De repente, rostos úmidos.
De repente, felicidade.
De repente, estilhaços.
De repente, olhos brilhantes.
De repente.
Alegria incabível, transferível, compartilhável.

De repente, segundos, minutos e horas.
De repente, adeus.
De repente, ignorância.
De repente, relembrança.
De repente, indiferença.
De repente.
O homem volta a ser homem.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Incapaz


Incapaz

Já nasce morto,
O ser humano.
O ser humano,
Já nasce podre.
Podridão.
Podridão.
Guarde palavras,
E ações.
Poupe as tolices.
Não contamine os outros,
Com a sua podridão!
Sinto o cheiro do orgulho,
Da arrogância,
Do descaso,
Da futilidade,
Da desimportância.  
Não vês? Não o vê?
Escarrar no putrefato,
É escarrar em si mesmo.
O silêncio o diz.
Gargalhas.
Ris.
Engasga-te.
Escarra-te.
Toda a falsa glória,
E ambição,
E orgulho,
E o desumilde,
É só corpo fétido,
Sem alma,
Sem coração,
Sem pensar,
Com agir,
De tolo.
Vangloria-te de tua sujeira?
Mais rápido do que o tempo,
A terra cobrirá todo o seu orgulho.
Silêncio.
Silêncio para todos.
A tudo se paga
Com prestações pós-vida.
Aonde está o orgulho agora?






terça-feira, 6 de novembro de 2012

Fio de vida


Fio de vida

Um ano a menos da vivência,
Um ano a mais de vivência.
Aproveite o fôlego,
O riso,
O silêncio,
O momento.
Sem tristeza,
Engano,
Maldade,
Ou frieza.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Silêncio




Silêncio

Sempre só
Abraçada ao vento,
Contemplando o momento,
De silêncio.
Só o necessário.
De mãos dadas à solidão.
O vento sussurra notas tristes da canção,
No ouvido cansado,
Só maus presságios.
Adeus,
O diz infeliz.
Ao hermético,
Sem hipocrisia,
Sem infâmia,
Sem lamento,
Sem humano.
Inumano.
Subumano.
Calem-se!
O silêncio faz bem.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Último Devaneio







Último Devaneio

Suas mãos quentes tocam a lápide,
Só o sente em sua alma,
Só o vê com as memórias,
Como um beijo gelado no mármore,
E um abraço vazio dado pelo vento,
Em devaneios, só histórias...


Verso em homenagem ao meu pai, Martinho Mormelo (*28/10/43 †15/06/11)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Indiferença





Indiferença 

De que ris? Qual a graça?
Orgulha-te desta vida imunda?
De tua cara e atos podres?
De graça, nada vejo.


A falsidade me fascina!
O sorriso amarelo me cativa!
Mas a que? A acariciar-te...


A mão que afaga é a mesma que espanca...
O abraço que conforta é o mesmo que sufoca...
O olhar que seduz é o frio...
O ritmo sofredor é o mesmo indiferente, insensível...


Basta o riso!
São só humanos.
No fim, todos serão comidos pelos vermes.