quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Silêncio




Silêncio

Sempre só
Abraçada ao vento,
Contemplando o momento,
De silêncio.
Só o necessário.
De mãos dadas à solidão.
O vento sussurra notas tristes da canção,
No ouvido cansado,
Só maus presságios.
Adeus,
O diz infeliz.
Ao hermético,
Sem hipocrisia,
Sem infâmia,
Sem lamento,
Sem humano.
Inumano.
Subumano.
Calem-se!
O silêncio faz bem.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Último Devaneio







Último Devaneio

Suas mãos quentes tocam a lápide,
Só o sente em sua alma,
Só o vê com as memórias,
Como um beijo gelado no mármore,
E um abraço vazio dado pelo vento,
Em devaneios, só histórias...


Verso em homenagem ao meu pai, Martinho Mormelo (*28/10/43 †15/06/11)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Indiferença





Indiferença 

De que ris? Qual a graça?
Orgulha-te desta vida imunda?
De tua cara e atos podres?
De graça, nada vejo.


A falsidade me fascina!
O sorriso amarelo me cativa!
Mas a que? A acariciar-te...


A mão que afaga é a mesma que espanca...
O abraço que conforta é o mesmo que sufoca...
O olhar que seduz é o frio...
O ritmo sofredor é o mesmo indiferente, insensível...


Basta o riso!
São só humanos.
No fim, todos serão comidos pelos vermes.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Crepúsculo




Crepúsculo

A melhor parte do dia
É o seu próprio fim.
Céu azul-anil, meio azul-turquesa, meio azul-alaranjado, meio laranja-avermelhado, meio vermelho-azulado.
A cor do céu gélido,
Anunciando a chegada de ventos tristes,
Brisa cortante, a névoa da morte para a alegria das últimas flores.
Tempos idos.
A lua sorri discretamente na penumbra,
Mas logo se vai junto com a névoa.
Agora é a vez das estrelas,
Mas só quando o céu as deixa mostrar,
De longe se vão os sorrisos,
É chegado tempo de silêncio.
Junto com o vento,
Vai também o último suspiro.
Só na lua, o consolo,
Na brisa fria da noite, o beijo,
No crepúsculo, o abraço de conforto.
A dor condenada congela junto com a terra,
Os olhos ainda refletem no lusco-fusco,
À espera de reencontrar a felicidade,
Junto com o último crepúsculo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Anseio Vão




Anseio vão

Cansada de esperar,
Esperança vã
Olhos fechados
Os dias vão.
Esperança tardia
Imploro que os céus me levem
O azul tão chamativo,
Respirar a vida já é cansativo,
O fôlego mecânico,
Já se vai o último pulsar de sangue,
Leve-me, ó céus!
Para o mais silencioso,
Onde não há pássaros cantando nem nada,
Nada, e nada.
Só o silêncio.
É o que preciso.
Chega.
Chega de estagnação.
De lágrimas e dor.
Feridas ardem junto com cada dia,
Que demoram tanto a passar.
Leve-me, azul do céu! Leve-me!
Para onde não há enganação,
Nem sentimento, nem amor,
Nem nada e nada.
A vida tornou-se um erro.
O resquício de alegria,
Já se foi há muito tempo.
Agora só os devaneios.
Leve-me, azul do céu! Leve-me.
Para onde não há nada,
Só onde há silêncio.
Longe dos estúpidos,
Longe do escárnio,
Onde o fôlego não seja súbito.

Despedida




Despedida

O último pássaro vem anunciar o crepúsculo,
Traz a tristeza e a melancolia de mais um fim,
Fim de tarde,

Fim de dia,
Fim de sonhos,
Fim de vida.

Azul do céu e azul dos olhos
Agora um só.
O sol diz adeus,
Ainda volta no outro dia.
E ele, voltará?

Deixa-me a melodia saudosa,
O último beijo de adeus,
Não houve!
Tardiamente, o vento o entrega,
Já frio. Frio.

Tarde. Demais?
A noite chora em orvalho mais um dia,
Dia ceifado, vida ceifada.
Haverá amanhã?
Para alguns.

Foi embora junto com o crepúsculo,
No azul avermelhado, se perdeu de vista.
Cobriu-se com uma núvem doce,
Sorriso de lua minguante,
Pintou com sonhos idos cada estrela no céu,
E deixou suas últimas palavras de silêncio,
E abraços vazios cheios de vida,
Na morta e triste despedida...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Andante Morento




Andante Morendo

Por onde anda?
Onde está?
Em que mundo foi?
Em que dimensão parou?
Pra onde o destino o levou?
Ele as tardes passava,
Cada minuto e segundo,
Seguindo parado,
Aos pés do piano,
Com olhos de suplício,
Sofrendo em silêncio.
E lá estava ela,
Com um pedaço da alma em cada tecla,
Uma lágrima em cada Nota,
Sentimento em cada Compasso,
O coração em Contratempo com a canção,
A dor do Pianissimo na consumação,
Um grito Staccato em cada sincopada respiração,
Agora a dor é Sostenuto,
Precisa-se de uma Pausa,
E por favor, uma Fermata.
Mas eis que o Adagio acabou,
Morento e Expressivo se calou,
Até o último fraseado,
Até o dissipar do último som,
Nas cordas tristes do velho piano
Agora Rallentando
Um dia Moderato,
Mas nunca mais Agitato.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Precisa-se!


Precisa-se!
Precisa-se urgente!
Precisa-se de uma apreciação do pôr-do-sol!
Precisa-se de um olhar!
Precisa-se de um piscar!
Precisa-se de uma música!
Precisa-se de um acorde, de uma melodia, de um acalanto!
De um encanto, de um sonho e um realizado!
Precisa-se de um sorriso inebriante!
De uma sonata doce de notas suaves,
De ecos e estalos do piano machucado!
Precisa-se ainda da brisa em si bemol,
De ventos que soprem na alma, quando a música não alcança!
Precisa-se! Precisa-se de um pôr-do-sol!
Precisa-se urgente!
Precisa-se da trilha agridoce, do beijo na testa, do silêncio iminente!
Precisa-se!
Precisa-se!
Precisa-se!
Precisa-se...


(Belíssar Mormelo)